terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Ignorância Causativa



A última coisa que o homem descobre é a si mesmo. É uma verdade estranha e contudo universal, de que, no homem, a sede de conhecimento houvesse de começar pelo mais distante e terminar pelo mais próximo. O homem primitivo estudou o firmamento, mas só agora, nos modernos tempos, começa o homem a explorar os mistérios de sua alma.
Os seres humanos, em sua maioria, são um mistério para si mesmos, e ainda muitos não se apercebem da existência do mistério. Se perguntássemos ao homem vulgar o que ele é em realidade, como ser vivente; que lhe sucede quando sente, pensa e age; qual é a causa da luta entre o bem e o mal de que é consciente em seu interior, não saberia o que responder, e até as próprias perguntas lhe seriam novas e estranhas. Contudo, não é mais estranho ainda que caminhem os indivíduos pela vida arcando com todas as suas vicessitudes, sofrendo as misérias comuns a todos os homens, regozijando-se nos fugazes prazeres da vida, suportando sua incessante carga, e tudo isto sem perguntar o porquê?
Mas em sua longa peregrinação, a cada alma chega a hora em que a vida se torna impossível a não ser que lhe conheça o motivo. Quando, desiludida do mundo circundante, onde não pode achar duradoura satisfação, a alma abandona por um momento sua caça frenética às ilusões, e exausta queda silenciosa e solitária, então nasce em seu interior a consciência de um novo mundo. Então, desviado seu rosto da fascinação do mundo circundante, descobre a alma a permanente realidade do mundo interior, o mundo do Eu superior. Então, e só então, podem ser respondidas as perguntas acerca da vida; mas, como disse Emerson, a alma nunca responde verbalmente senão pelo que ela mesma inquire.
(J. J. Van Der Leeuw)